segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Nem todo nonsense faz sentido...



Olá, amigos, como foi o fim de semana??
Hoje vamos falar um pouco sobre o Engenheiros do Hawaii, como já disse, minha banda favorita para estudar as letras, cheias de subjetividade. Mas primeiro, vamos ver a letra de "Sala VIP", do disco Várias Variáveis, 1991.

Não! Nem vem que não tem!

Eu não devo nada pra ninguém!
Nem vem que não tem!
Eu não devo nada pra ninguém!

Você pode falar o que bem entender
Você pode entender como quiser

Mas, não! Nem vem que não tem!
Eu não devo nada pra ninguém!


Me deixa fora dessa guerra santa

Me deixa fora dessa guerra santa

Senta a pua, quebra o pau

Manda brasa, solta franga

Sai de baixo, baixa a lenha
Manda ver, roda a baiana

Entra de sola na sala vip

Mas me deixa fora dessa guerra

Santa ignorância (haja paciência!)


Não! Nem vem que não tem!

Eu não devo nada pra ninguém!

Nem vem que não tem!
Eu não devo nada pra ninguém!


Você pode achar que não é bem assim

Você pode achar assim bem melhor

Mas, não! Nem vem que não tem!

Eu não devo nada pra ninguém!


Tô de saco cheio!!!
Chega, deu pra mim!!!
Eu não sou do meio
Sou do princípio ao fim
Eu não sou do meio
Não sou do meio termo
Quero todos os gestos ou nenhum

Todos os sons ou o silêncio total

Nada de meias palavras

De duplo sentido


"Toma lá, dá cá

Toma lá, dá cá

Toma lá, dá cá

Ninho de cobras

Cobranças

O som do gelo num copo de uísque

Uma cascavel preparando o bote"


O bote!
O bote salva-vidas

Não! Nem vem que não tem!

Nem todo nonsense faz sentido!

(Não!) Nem vem que não tem!

Nem todo sentido é obrigatório!

(Não!) Nem vem que não tem!

Nem todo sentido faz falta!

(Não!) Nem vem que não tem!

!nem toda falta de sentido é sentida!

"Uma página arrancada, um segredo mantido.
Uma passagem subterrânea sob a praça da matriz.

Uma história mal contada, uma mentira repetida.

A verdade a ver navios..."


Bem, vamos aos comentários...
Claro que ouvir a música dá uma impressão bem mais realista, pois os versos entre aspas são falados com distorção, dá a impressão de ser outra pessoa falando, "por trás da cena" (da música, algo como "verdades ocultas").

Temos, no link do título, uma pequena biografia do Engenheiros do Hawaii, onde podemos perceber muitos dos sofrimentos e acusações enfrentadas pela banda, desde fascismo até elitismo e subversão. Segue um trecho do texto, comentários de Maltz e Gessinger:

"Um ano depois do revolta os Engenheiros lançam um novo LP - Ouça O Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém. (...) surge aí também a primeira composição de Gessinger e Licks - Variações Sobre Um Mesmo Tema . Mais uma vez a banda é alvo da crítica, desta vez em relação aos clichês subvertidos presentes nas letras de Gessinger. Aí vai a justificativa:

Carlos Maltz: Somos absolutamente fascinados por isso, frases de efeito ou sei lá como chamam. De repente, duas coisas estandardizadas como o símbolo hippie e uma engrenagem, quando juntam vão formar uma outra coisa. Essa é uma viagem da banda.

Humberto Gessinger: O que me fissura nos ditados é que são super presentes. Fico atento pra pegar essas pérolas, essas frases de caminhão. A gente subverte uma palavra no fim e já cria um efeito ambíguo. O nonsense e o abstrato são geniais, o supra sumo da cultura ocidental. Mas hoje em dia eu tenho horror da sua vulgarização. Acham que todo nonsense faz sentido, caretearam. O que a gente tenta é sair desse atoleiro de nonsense. É buscar o significado e enlouquecer, desmistificar a razão. Pegar um ditado teoricamente careta e subverte-lo."

Capa de "Ouça o Que eu Digo: Não Ouça Ninguém", de 1988.

Então, percebemos. Eles próprios admitem a utilização de elementos ocultos nas composições da banda. A exemplo do Pink Floyd, eles sofreram influências do movimento hippie, além da prórpia cultura que os rodeava (pampas, MPB, Rock, entre outras coisinhas). Na música Sala VIP dá pra ter uma noção, pois ela foi escrita em '91, quando várias críticas já haviam sido feitas e desmistificadas (as principais aconteceram em '88 e '89, anos em que o EngHaw começou a ganhar espaço na cena nacional. Depois de O Papa é Pop (1990) eles se tornaram ícones da música brasileira e decidiram, então, falar um pouco mais sobre eles. No caso de Sala VIP Humberto e seus companheiros decidem acabar com as críticas de uma vez por todas: usando a própria subversão (nos trechos distorcidos, onde temos algumas pinceladas sobre política) e algo de ironia, eles dizem quem realmente são. Algo como "isso é assim e pronto, você querendo ou não".

Isso me faz lembrar daqueles engraçadinhos dos tempos de escola, que levam tudo o que se diz "por outro lado" (seja lá qual lado for esse). Mas sempre rolavam uns comentários sacanas. E no Brasil pós ditadura (sim, seguiram-se alguns costumes até os anos de '93 e '94, não vamos negar (vide censura de Gabriel, o Pensador, em '92, na Rede Globo, ao cantar seu novo hit "Hoje eu Tô Feliz (Matei o Presidente)", quando a transmissão do programa em que se apresentava foi suspensa em todo o país) várias críticas e censuras ainda surgiam diante de alguns comentários sobre política e políticos principalmente. Pra quem conhece Engenheiros em seu início, tem muitos comentários sobre política em suas entrelinhas. Beijos pra Torcida (Guerra Fria), Toda Forma de Poder (sobre toda e qualquer forma de poder mesmo, criticando inclusive o fascismo), Fé Nenhuma (Brasil), entre outras.

Algumas vezes a gente sofre com os espertinhos da escola. Outras, porém, surgem os "subversivos" e nos fazem entender quem realmente está por cima das situações...

Como eu sempre digo, conhecimento nunca é demais. Aliás, várias pessoas sempre dizem isso. E por que será que muitos não prestam atenção, não é mesmo?

Beijos pros amigos, amigas, namorada e familiares!

Amo todos vocês!