quinta-feira, 22 de abril de 2010

Voar, voar...

Eu hoje sonhei que estava voando. Sim, dentre vários sonhos desconexos (ou não) que tive, o principal, último e mais agradável era isso: estava com alguns amigos, em um local reservado, algo como uma chácara, próximo (bem próximo, do tipo "cruze o asfalto") a uma cidade, em que várias pessoas se encontravam para comemorar o final de semana. Quase uma AABB.

O fato é que um garotinho, devia ter uns 10 anos, me guiou por entre aquelas pessoas, passamos ao lado do restaurante, sobre a pequena ponte, atravessando o lago que circundava as construções em madeira, de característica rústica, porém, aconchegante.
Ao chegarmos do outro lado ele me disse:
- Agora pule, posicione-se na horizontal e faça assim com as mãos - movimentando-as em ondas deslizantes no ar. Acompanhei-o, imitando o movimento. Ele abriu um sorriso e me incentivou, como se estivesse abrindo caminho para mim.
Dei alguns passos acelerados e me atirei contra o vento, indo de barriga em direção ao chão. Porém, antes que o tocasse, senti-me flutuando, como se estivesse dentro do lago que nos sondava em misterioso silêncio a poucos metros dali.
Movimentei as mãos em ondas, como se estivesse mergulhando, imitando o movimento de um golfinho, o que me fez deslizar livremente. E eu fazia os movimentos cada vez mais rápidos, com mais facilidade, até pegar velocidade e me direcionar para a pequena mata ao redor da propriedade em que estávamos. Foi maravilhoso. Depois, ainda, voltei voando em direção àqueles primeiros que estavam no local, nas churrasqueiras, perto da entrada, que nos viram chegando uns poucos minutos atrás. De repente, foi como se algo me estivesse puxando em direção ao chão. Não conseguia mais me manter flutuando. "Está na hora", pensei. Então, tudo se desmanchou, toda aquela cena se desfez, com a sirene disparada, em meu celular, despertei, novamente em meu quarto.

Interessante porque há alguns meses eu me questionava sobre o impulso de "liberdade" que as crianças apresentam. A maior parte delas demonstra algo como que um impulso natural para o vôo e para a velocidade.
Observando um garotinho brincando com carrinhos, de flexão ou não, observamos que há a intenção de movimentar o objeto com velocidade potencial. Quer dizem, em vez de atirar o brinquedo pelos cantos da casa, ele o movimenta lentamente, mas em sua imaginação a corrida se faz a mais de 80 Km/h. Uma garotinha no banco, outro dia, brincava com sua pelúcia, fazendo-a flutuar levemente, como se um porco espinho fosse dotado de um dispositivo como um jetpack, indo para cima e para baixo, sem limites, ignorando totalmente a força da gravidade.
Sabe-se, pelo estudo da Doutrina Espírita, da capacidade da alma de deslocar-se livremente pelo espaço. Seria então, durante a infância principalmente, a exteriorização da "impressão" (enquanto lembrança) dessa capacidade? Obviamente, almas menos evoluídas não tem tanta liberdade, mas possivelmente perceberam isso de outros espíritos ou carregam consigo o sentimento inato da capacidade que possuem, mesmo sem saber como é e como funciona.

Enfim, doce liberdade que preenche ossos momentos de "cérebro vazio". Nos dias de nossas vidas sobram os sonhos e as vontades, faltam algumas capacidades.
Pra encerrar o post, fica uma música do blindagem, chamada Gaivota, composta por Alberto Rodriguez, Ivo Rodrigues Jr. e Paulo Teixeira:




GAIVOTA

Sou gaivota por sobre o mar
Meu vôo é volta de qualquer lugar
Desapareço no tempo, no ar
Antes que um olho consiga piscar
Num vôo razante
O que eu vi não dá pra acreditar
Dá pra acreditar?

Minhas penas tremendo
Me levem daqui
Faço parte do vento
Vou me embora correndo...

Se acalme, se acalme...


















(Imagem: "Learning To Fly", by Jessica Gregory, acrilic and oil)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Tempo Não Pára

E então me peguei pensando sobre o tempo. Que é o tempo? Perguntado a Santo Agostinho, ele disse "Quando não me perguntas sobre o tempo, eu sei o que é o tempo. Quando me perguntas sobre o tempo, eu nada sei sobre o tempo." Convenção humana, é fato que a natureza segue em ciclos rumo ao fim do mundo, tal como o conhecemos hoje. Séculos se passam, eventos geológicos e astronômicos se repetem.
Que é isso que diz que a Lua a cada ano afasta-se 5cm da Terra? E esse lance de o Sol estar morrendo, de nossos primeiros planetas serem tragados pela sua força final e de 2012 representar o fim do calendário Maia?O que significa dizer que os pântanos de Everglades estão no final de um período estacionário em sua atividade e que a qualquer momento aquilo tudo (que hoje é o maior vulcão em atividade do mundo, dezenas de vezes maior que os demais) pode explodir, causando um impacto incalculável à natureza terrestre? Como é isso de dizer que nós estamos em um período intermediário a uma e outra era glacial?

De fato, há muitas coisas a se esperar com o tempo. Nós o usamos para garantir uma ação prévia, mesmo que psicológica, de preparo, de socorro, prevenção, algo que nos faça lembrar de quantas coisas nós nos safamos, fazemos ou não, etc.
O nosso cérebro, assim como de outros animais, marca o dia de acordo com a posição do sol, temperatura, direção do vento. Sensações de fome, sono, euforia, mudam de acordo com o período pelo qual passamos.

Ontem, porém, conversei com um senhor, creio eu próximo dos 60 anos de vida, se não mais, que estava a preencher um documento para mim. Ele me fitou durante alguns segundos e então me perguntou: "Em que mês estamos?"
Obviamente ele não estava com problemas de memória. Pensei, então, buscando entender o motivo de não ter-se preocupação com o tempo, com o que ele representa. Afinal, há tantas coisas na vida que nós não fazemos por falta de tempo. Muitas vezes me justifiquei assim. Crime! Para que culpar quem nem mesmo existe? A culpa, porém, torna-se real por comprometer aquilo que deveria ser e não foi. Tudo aquilo que se postou diante de nós e foi renegado por comodismo, por desinteresse, por baixa auto-estima, por orgulho, egoísmo, vingança, autopiedade, indiferença ou qualquer outra podridão que tenha partido de nossas almas impuras.

Portanto, analisemos essa música, de autoria diversa, cantada por Cazuza e Frejat, no querido Barão Vermelho:

O TEMPO NÃO PÁRA


Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou o cara
Cansado de correr na direcao contraria
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se voce achar que eu to derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão da caridade de quem me detesta
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando agulha no palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros

Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina ta cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára



















É por essas e outras que a vida está como está
E eu hoje, 09 de abril, tenho um motivo pra chorar.
Faleceu ontem à noite Ivo Rodrigues Jr., vocalista da banda curitibana Blindagem, sucesso nacional dos anos 80. Ivo foi considerado o melhor cantor do Sul, em '66, formou a banda em '69 e desde então os carinhas vinham fazendo suas poucas apresentações em Curitiba apenas. Ivo era o tipo de cara brincalhão, piadista e sempre acompanhado de seu violão despertava-me a curiosidade de conhecê-lo. Esperei demais. Meu tempo acabou e agora fica minha estima a essa pessoa e o desejo de encontrá-lo, daqui há alguns anos, melhor do que estava em seus últimos dias aqui em nossas terras frias. Descanse em paz, Ivo!