quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Insônia


Olá, queridos. O que posso dizer da última noite? Foi estranhamente interessante. Não foi boa, de fato, mas convenhamos que foi produtiva e que, hoje, acordei estranhamente inspirado para produção literária. Acho que é um bom dia pra fazer um daqueles testes da Universidade de Cambridge sobre Psicologia.
Quanto à produtividade, segue aí meu mais novo poema, feito enquanto rolava na cama, sem conseguir dormir.

INSÔNIA

Cá estou eu, fora de hora, fazendo o que não devia
Ou, ao menos, não fazendo o que devia.
Mas, de certo, como saber se podia ou não traçar estas linhas?
Acontece que já tarda a noite, e logo chegará o dia.

Insônia, sua insolente! Por que me abres os olhos nesta noite
De flashes ininterruptos, de vento constante?
Ouve só o barulho. Que será? Uma besta uivante?
Gemidos, rangidos, grunhidos, talvez. O vento lá fora se mostra

A casa, para mim, é nova. A cidade também.
Como poderia eu conhecer os sons que a madrugada tem?
O vizinho mequetrefe deve ter esquecido
Mas a TV ilumina a sala e o som incomoda meu ouvido

Sirenes, gritos, em um tipo de aventura policial
Resultarão, bem sei, em meu desgosto matinal
E o cão, que de longe brada, coitado
A tantos incomoda, tenho certeza, mas em que parada
Se encontra o nobre amigo? Não na estrada, nem perto de minha janela
Não incomodaria se persistisse latindo, ou mesmo se tivesse uivado

O vento segue em sua prosa, me lembrando tempo antigo
Memórias de infância, de locais, e da vontade de ter dormido
Aqui perto, bem perto, me parece, alguém arrasta algum objeto
Ou fecha uma janela ou puxa ferro sobre o concreto

Mas por que, justo hoje, haveria de ser assim?
Em meio à madrugada já tentei tantas coisas, mas acabo, enfim
Deitado, a cabeça reclinada sobre o travesseiro e o computador no colo
Amanhecerei certamente com alguma dor. Então, imploro
Cala-te, noite, para que eu descanse, pois logo chegará o dia
E terei de caminhar, ler, correr, será uma correria sem fim

Assim, eu sei, terei problemas, então peço
Por favor, noite amiga, permita-me descansar
Amanhã, no novo dia, preciso muito trabalhar
Colabore, e leve-me, Orfeu, ao teu Sonhar
E encerro meu dia pois, agora nesta linha, deste mundo me despeço.

É isso aí. Apesar da noite "mal dormida" acordei bem, feliz e inspirado. E, agora, vamos para algumas atividades aleatórias do dia. Até breve para, quem sabe, mais um texto neste belo dia fresco de céu azul.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A Arrogância Segundo os Medíocres

“Adorei o seu sapato”, disse uma amiga para mim certa vez. “Legal, né? Eu comprei em uma feira de artesanato na Colômbia, achei super legal também”, eu respondi, de fato empolgada porque eu também adorava o sapato. Foi o suficiente para causar reticências quase visíveis nela e no namorado e, se não fosse chato demais, eles teriam dado uma risadinha e rolariam os olhos um para o outro, como quem diz “que metida”. Mas para meia-entendedora que sou, o “Ah…” que ela respondeu bastou.
Incrível é que posso afirmar com toda convicção que, se tivesse comprado aquele sapato em um camelô da 25 de março, eu responderia com a mesma empolgação: “Legal, né? Achei lá na 25!”. Só que aí sim eu teria uma reação positiva, porque comprar na 25 “pode”.
Experiências como essa fazem com que eu mantenha minhas viagens em 13 países, minha fluência em francês e meus conhecimentos sobre temas do meu interesse (linguística, mitologia, gastronomia etc) praticamente para mim mesma e, em doses homeopáticas, somente entre meu restrito círculo familiar e de amigos (aqueles que a gente conta nos dedos das mãos).
Essa censura intelectual me deixa irritada. Isso porque a mediocridade faz com que muitos torçam o nariz para tudo aquilo que não conhecem, mas que socialmente é considerado algo de um nível de cultura e poder aquisitivo superior. E assim você vira um arrogante. Te repudiam pelo simples fato de você mencionar algo que tem uma tarja invisível de “coisa de gente fresca”.
Não importa que ele pague R$ 30 mil em um carro zero, enquanto você dirige um carro de mais 15 anos e viaja durante um mês a cada dois anos para o exterior gastando R$ 5 mil (dinheiro que você, que não quer um carro zero, juntou com o seu trabalho enquanto ele pagava parcelas de mil reais ao mês). Não importa que você conheça uma palavra em outra língua que expressa muito melhor o que você quer falar. Você não pode mencioná-la de jeito nenhum! Mas ele escreve errado o português, troca “c” por “ç”, “s” por “z” e tudo bem.
Não pode falar que não gosta de novela ou de Big Brother, senão você é chato. Não pode fazer referência a livro nenhum, ou falar que foi em um concerto de música clássica, ou você é esnobe. Não ouso sequer mencionar meus amigos estrangeiros, correndo o risco de apedrejamento.
Pagar R$200 em uma aula de francês não pode. Mas pagar mais em uma academia, sem problemas. Se eu como aspargos e queijo brie, sou “chique”. Mas se gasto os mesmos R$ 20 (que compra os dois ingredientes citados) em um lanche do Mc Donald’s, aí tudo bem. Se desembolso R$100 em uma roupa ou acessório que gosto muito, sou uma riquinha consumista. Mas gastar R$100 no salão de cabeleireiro do bairro pra ter alguém refazendo sua chapinha é considerado normal. Gastar de R$30 a R$50 em vinho (seco, ainda por cima) é um absurdo. Mas R$80 em um abadá, ou em cerveja ruim na balada, ou em uma festa open bar… Tranquilo!
Meu ponto é que as pessoas que mais exercem essa censura intelectual têm acesso às mesmas coisas que eu, mas escolhem outro estilo de vida. Que pode ser até mais caro do que o meu, mas que não tem a pecha de coisa de gente arrogante.
O dicionário Aulete define a palavra “arrogância” da seguinte forma:
1. Ação ou resultado de atribui a si mesmo prerrogativa(s), direito(s), qualidade(s) etc.
2. Qualidade de arrogante, de quem se pretende superior ou melhor e o manifesta em atitudes de desprezo aos outros, de empáfia, de insolência etc.
3. Atitude, comportamento prepotente de quem se considera superior em relação aos outros; INSOLÊNCIA: “…e atirou-lhe com arrogância o troco sobre o balcão.” (José de Alencar, A Viuvinha))
4. Ação desrespeitosa, que revela empáfia, insolência, desrespeito: Suas arrogâncias ultrapassam todo limite.
Pois bem. Ser arrogante é, então, atribuir-se qualidades que fazem com que você se ache superior aos outros. Mas a grande questão é que em nenhum momento coloco que meus interesses por línguas estrangeiras, viagens, design, gastronomia e cultura alternativa são mais relevantes do que outros. Ou pior: que me fazem alguém melhor que os outros. São os outros que se colocam abaixo de mim por não ter os mesmos interesses, taxar esses interesses de “coisa de grã-fino” (sim, ainda usam esse termo) e achar que vivem em um universo dos “pobres legais”, ainda que tenham o mesmo salário que eu. E o pior é que vivem, mesmo: no universo da pobreza de espírito.

(Texto publicado por uma brasileira que, assim como eu, sofre com sua indignação em relação àquelas pessoas chatas que se dizem os "legais" e agem com preconceito com aqueles que, assim como ela e eu, preferem qualidadequantidade).

E Daí?


Eu me pergunto - e daí?
O tempo passa, os dias vêm e vão. “Vão os anéis e ficam os dedos”, “vão os dedos e ficam os anéis”. “Eu não sou um bom lugar”. “Ouça o que eu digo: não ouça ninguém”. Sinceramente? Não sei. Não sei o que está certo, não sei o que está errado. Sei aquilo que vejo, que é ponderável. Sei aquilo que se mostra verdadeiro, e não intocável. Meias palavras, subversão, duplo sentido, nada disso basta quando tudo o que se quer é um pouco de quase-nada. Depois de um café Solitário-Simples-Sem-Açúcar fico aqui pensando em quanto falta pra esse quase-nada. Aliás, o que é esse quase-nada? Talvez seja um quase-nada tão grande que eu nem consiga imaginar. Talvez seja tão simples que eu já consegui. Talvez seja tão complexo que eu nunca chegue a conquistar. Ou, talvez, seja tanta coisa que, de uma só vez, seja impossível conseguir mas, com persistência, dedicação e devoção, eu chegue aonde quero muito mais rápido - e em melhores condições - do que eu imagino que possa. Talvez uma xícara de café ajude a manter a calma até que chegue o dia, que não demorará, eu sei. Eu sei. Enquanto ele não chega, aproveito a rara qualidade no sinal de celular pra te ligar 30x por dia, só pra dizer que estava com saudade.

As Brumas e Você

7h28. Hoje está frio. Puxo o edredom para cobri-la melhor, dou-lhe um beijo suave, cuidando para que não desperte. Me arrumo em silêncio, giro a chave na porta cuidadosamente. Não percebo as brumas que dominam o ambiente. Quando me viro, logo após trancar a porta, ainda cego pelo sono, julgo que meus óculos estão sujos. Retiro a armação de lentes negras e tento limpá-las. Caminho de cabeça baixa, com os olhos semicerrados, até o portão e, quando me dou conta, não consigo enxergar a outra margem da rua. A névoa dominou todos os espaços.
Ah, como eu amo esta paisagem! Não. Amo as brumas. A paisagem é praticamente imperceptível, já que está quase totalmente encoberta. Como numa cidade fantasma, sinto meu corpo arrepiar pelo frescor matinal, mas também pela emoção de estar em um momento tão... indescritível. Não consigo dizer por que me sinto tão encantado pela neblina. Mas, bem sabes, meu amor, ela me fascina.
Olho de volta para a casa, penso em acordá-la para que possa desfrutar deste momento junto a mim. Um momento especial, relativamente difícil de se ver. Mas não posso. Não posso pensar em interromper seu sono, seu momento de repouso. Unir a pessoa a quem mais amo a um momento de harmoniosa admiração da natureza seria perfeito, mas, não posso. Não posso pensar em fazer algo que tire de você este momento prazeroso, assim como qualquer outro.
Sigo meu caminho. Deixo-a para trás. Levo comigo as gotículas de água suspensas no ar denso da manhã enevoada. caminho pelas ruas, sinto tocar minha pele as gélidas e pequeninas frações liquidas, como um perfume que se espalha, como o pólen minúsculo carregado pelo vento, como o aroma do café que você prepara, como o cheiro do seu corpo que domina o quarto com sua presença.
Deixo-a. Pode parecer egoísta, caminhar sozinho pela cidade em um momento em que ela oculta suas linhas, seus corpos, e se enche de mistérios, mas não. Fiz isso pensando em seu bem-estar. Fiz isso porque dentro de mim, no mais íntimo de meus pensamentos, encontro a certeza de que este não será o último momento. Não será a última oportunidade. Fiz isso porque dentro de mim tenho a certeza de que podemos construir um caminho que nos leve a muitos outros lugares, a muitas novas oportunidades, e que inclusive nos leve para um lugar onde as brumas estarão à mercê de nossas vidas, para que juntos possamos desfrutar desta beleza natural em um momento mais propício, você e eu, num dia qualquer, vivendo nosso amor.