domingo, 23 de janeiro de 2011

O Mal É Contagioso

Pra quem não entendeu o último post, de novembro passado, devo minhas sinceras desculpas se pareci depressivo ou odioso. Não se enganem. Eu não sou alvo da depressão, meus queridos leitores.


Vou dizer o que aconteceu naqueles dias. Meus pais estavam saindo de viagem, eu tive um pesadelo terrível, mas uma daquelas batalhas épicas contra algum criminoso que tentava me alcançar, vários amigos estavam trabalhando nas operações do RJ. Eu sei que aquilo não é como controlar uma rebelião num presídio, nem conter um bando de torcedores fanáticos que estão fazendo arruaça. Muito menos estar em uma guerra militar. Aquilo é uma guerra civil e numa guerra civil não há como prever os movimentos do inimigo. E sim, eu estava MUITO preocupado. Sem falar, ainda, em outras coisas totalmente sem sentido que eu estava carregando em minha vida naqueles dias. Alguns dias depois daquele post, decidi mudar, olhar para novos horizontes. Não apenas queria explodir as grades, mas sim, o fiz e ainda voei. Voei alto e agora estou no alto da montanha, inspirado pelo estimado AgaGê, poeta da razão. Mas no fim das contas, aquele sentimento ainda permanece.
E pra quem quiser entender no que eu estava pensando, segue a letra de O Mal É Contagioso, de Daddo Villa-Lobos, escrito para a trilha sonora do filme Bufo & Spallanzani (2001), que, inclusive, indico aos amigos. Romance policial, nacional, de qualidade. E vejam vocês que eu nem gosto tanto de filme nacional heim... =D
Preparem-se para uma viagem. pra quem quiser, a música está disponível para ouvir em www.radio.uol.com.br. Procurem na letra D, página 2, Daddo Villa-Lobos. E divirtam-se!








Não adianta, eu sou viciado em perceber a oculta celebração rascante do instinto mórbido extravagante.
Eu sou detetive, e todo detetive olha prás pessoas, olha em volta e pergunta:
- Mefistófeles você está aí?
Olha para uma pessoa e pergunta:
- Até aonde você é capaz de ir?

Não adianta, cada minuto de civilização na minha mente pede uma hora de barbárie. Pede na mente de qualquer pessoa, e eu pergunto:
- E aí rapaz, o teu pensamento criminal é calculado ou passional? Fala pra mim, pacato. Fala pra mim, mulher responsável. Fala pra mim, singelo. Fala pra mim, homem de bem. Teu pensamento criminal é calculado ou passional?

- Mefistófeles você está aí?
Eu sou detetive, eu vivo perguntado isso.
- Mefistófeles você está aí? Você tá em Moscou? Você tá no Rio? Você tá em São Paulo? Mefistófeles liga pra mim, porque não tem jeito, eu estou sempre ligado na caixa postal do mal. Liga pra mim.

Não é apologia, é apenas a consciência da sinistra harmonia. Da estranha harmonia, da suculenta harmonia entre o bem e o mal. O bem é uma boca, o mal é outra boca. Da saliva desse beijo sai a nossa alma.
Eu sou detetive. Consciência policial é como uma consciência religiosa do submundo. Médico, polícia, puta, advogado, todos vivem de botar o dedo na ferida da vida. Não é apologia é apenas uma estranha harmonia.
Maquiavélicos, Exus de Messalina, Sade vivem soprando no ouvido da humanidade a tentação de usar o próximo como alvo de prazer, de rapina de prazer. Rapina de sentimento, de tudo. E eu sou detetive. A pergunta que não se cala na minha consciência é:
- Mefistófeles onde é que você está, você está em Moscou, você tá em Nova York, você tá na Oceania? Liga pra mim Mefistófeles.
A civilização é um intervalo na minha fixação, na minha obsessão. Eu to sempre ligado por profissão na caixa-postal do mal. Liga pra mim.
- Mefistófeles, você tá aí?
Quando eu ando na rua eu fico perguntando pra cada esquina, pra cada pessoa:
- Mefistófeles, você tá aí?
Eu sou detetive! Médico, puta, advogado, bandido...
Cada minuto de civilização na minha consciência pede uma hora de barbárie.
E eu pergunto pra você:
- Teu pensamento criminal é calculado ou passional? E aí você, garota. O que que você tem de triplamente qualificado?
- Mefistófeles, você tá ai?
Eu sou viciado em perceber a oculta celebração rascante do instinto mórbido extravagante. Maquiavélicos, exus de Messalina, Sade soprando no ouvido da humanidade...
A civilização é apenas um intervalo na minha fixação. Eu sou detetive!
Eu vivo botando o dedo na ferida. Médico, puta, advogado, aventureiro...
- Mefistófeles, você tá aí? Até onde você é capaz de ir, mulher responsável?
Diz pra mim... Diz pra mim... Maquiavélicos, Exus de Messalina, Sade.
Não adianta, a civilização é um intervalo na minha fixação. Eu sou detetive!
Eu sou detetive...
O mal é uma boca o bem é outra boca. Da saliva desse beijo nasce... Surge a nossa alma. Alguém tem que fazer o serviço.
- Mefistófeles, você tá aí? Você tá em Moscou? Liga pra mim... Porque eu to ligado na caixa postal do mal. Liga pra mim, Mefistófeles.
- Um Crime nunca existe isolado, num estado de pureza.
Teima...
- O mal é contagioso.
Minha consciência teima...
- O mal é contagioso.
Teima...
- O mal é contagioso.
Cada minuto de civilização pede uma hora de barbárie...

(Narração de Tony Ramos, em cena do filme Bufo & Spallanzani, 2001)