segunda-feira, 30 de junho de 2014

Poesia Nunca se Perde

Há muito tempo (tanto tempo que já não sei quanto tempo faz) escrevi este poema, inspirado em uma pessoa. Sem focar nesta personagem da história da minha vida, e sim na escrita propriamente dita, esta foi uma de minhas obras mais harmônicas, se não a mais entre todas, e gostaria de compartilhá-la com vocês. As musas, como disse em um post há pouco passado, são a chave para a escrita e são extremamente relevantes para qualquer produção. Entretanto, quero, nesta ocasião, ressaltar não a musa, mas a escrita.

Lembrem-se de deixar um comentário, aqueles que o desejarem. Palavras, quando direcionadas a algo - e principalmente a alguém - nunca são apenas um conjunto de códigos binários dispostos em lacunas paralelas, e sim um conjunto de pensamentos vivos, estruturados e localizados em um tempo-espaço próprios, carregados dos sentimentos de quem as escreveu.

Ilúvatar esteja com vocês.

Pour Tu

Na tela vejo as letras
Correndo livres, enquanto eu
Fico aqui, sentado, pensando
No dia em que esse amor nasceu

Nem consigo me lembrar
Talvez esteja perdido
Aqui, ali, em algum lugar
Que não me seja conhecido

Mas é certo que ele existe
Porque se assim não fosse
Não viveria sem que te visse
Não correria pra onde você fosse

Enquanto eu ainda não posso
Segurar a sua mão
Escrevo poeminhas em que roço
Meu sentimento em seu coração

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Elástico

Não foi um dos melhores, mas num momento de delírio consegui escrever este texto. Parece que os próximos textos serão mais longos do que era comum ao passado, mas sigo com aquela vontade de sempre, à mercê da inspiração, para produzir mais e mais, e cada vez mais sinto vontade de continuar, e escrever, e ler e partilhar.

"Jack Johnson tem um ritmo agradável. Fez, a partir do reggae, melodias bastante peculiares, com influência da música havaiana e alguns outros elementos que ele utiliza, juntamente com sua voz quase sussurrada. Um dos melhores músicos da atualidade, eu diria. Mas em minha mente, em meu cérebro, cada vez que acaba uma música, há alguma melodia dos anos 1970 ecoando no fundo desta minha noite chuvosa. Mais especificamente o hard rock de Nazareth.
O celular toca ao receber uma mensagem de texto. Meu pai. Toca. A menina que estuda comigo. E de novo, mas agora é a menina que trabalha comigo. Mais uma vez, com uma mensagem da minha tia. Estou conversando com estas pessoas, mas cada vez que ouço a campainha sinalizar uma nova mensagem eu pego o celular pensando ser uma mensagem sua.
Há uma caneca com chá sobre a cama. O computador está ao lado dela. A música vem dele. Eu estou na pior posição que poderia querer agora. Ok, talvez não sejas tão ruim, mas certamente não é tão boa quanto estar deitado do seu lado, sentindo seu perfume. Ou tomando um café, ou um chá, ou sabe-se lá o que. Seria melhor se fosse com você.
O violão está ao meu lado, sobre a cama, esperando uma canção. Mas se eu quiser uma canção agora, se eu fizer uma canção agora, ela será sobre saudade. Ou sobre sorrisos, lábios, noite, perfume e qualquer outra coisa que me faça lembrar você.
Eu vejo uma foto sua no celular e instantaneamente é como se não houvesse saudade. É quase como se eu pudesse estar realmente olhando pra você, tamanha sua presença em meu mundo. Ao mudar de tela a saudade volta e tudo volta a ser o que era. Você está longe, com seus cabelos e todas suas cores, com suas unhas coloridas e seu esmalte pela metade. E quando vejo, sobre a cama, um fio de cabelo longo, pego-o, pensando ser seu. Mas na verdade eu sabia que era meu desde o começo.
Eu olho para o chão, ao lado da cama, e posso imaginar um par de sapato seu ali, esperando seus pés quase sempre frios, mas parte essencial de você. Olho para o travesseiro vazio e imagino você ali deitada. Quase posso vê-la. Mas você não está aqui. Na verdade, está longe. Muito longe. Mas o aroma do incenso que está queimando na sala neste momento me faz lembrar de você. Não sei por que, mas faz.
O tempo passa, a vida passa, às vezes muito rápido, às vezes não. Mas enquanto você não está aqui parece um verdadeiro jogo de vai e vem, do início ao fim, depois ao início novamente. E este vai e vem me deixa preso no tempo-espaço de tal forma que nem sei onde eu estou pra querer que você esteja comigo.
As paredes, o teto, a música, os aromas, tudo se perde e retorna, como uma mola. Vai. Vem. Vai. Vem. A única coisa que me acompanha é a saudade. E parece que é ela quem dá mais impulso e resistência para a mola que impulsiona meus pensamentos nesta noite chuvosa.
Jack Johnson me parece ser bom pra uma noite solitária e chuvosa. Mas está tocando Nazareth. Pego sua rasteirinha para ir até a cozinha pegar uma xícara de café. Não, não era café que eu queria. E não era sua rasteirinha, era minha pantufa. Será que eu posso compor uma música que não fale sobre nada do que eu estou pensando agora?
Se eu acender um incenso talvez me acalme. Enquanto toco uma canção que fala sobre uma garota qualquer eu termino meu trabalho. Na verdade, não. Na verdade eu estou vendo um cabelo pairando no ar, suspenso num momento que não é meu, num espaço que não é seu. Neste momento as coisas se desaceleram, o som para, o coração para, os dedos param. A história para. E a história era sobre uma crônica, mas não era exatamente uma crônica. Era apenas um movimento em falso, um delírio durante o pulsar de uma mola perdida no cosmos, um sentimento vago, contínuo, delgado, suave e lacerante. Dá pra sentir seu calor na pele, se você se concentrar. Enquanto o universo viaja rápido demais...
Eu.
Pareço.
Estar.
Parado.
Bem.
No.
Meio.
Desta.
Saudade.
Na verdade... Eu só queria escrever uma crônica..."

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Compartilhando Experiências

A poesia está intrínseca no todo, em a Natureza, e ainda mais. Por ser Arte, tem como função sensibilizar o homem à grandeza do Universo, suas faces e eventos. Cada ser, com seu ponto de vista, observa-o e traça suas próprias impressões. Ao transformar estas impressões em palavras, surge a poesia. Segue uma impressão, de um ponto de vista, de um indivíduo da casa do Universo.

METAPOESIA

Vê se te desentorta!
Pareces letra morta.
Não adormeça na falta de rima.
Acordo-te
pra algo que não imaginas...
Com teus enleios abro portas.
Vê que és matéria-prima!
Pra uma obra que não termina.
Sinto-te
imperfeita.
És, não cativa, ativa...
Conduze-me
a mundos desconhecidos,
Recônditos mais íntimos de amores perdidos,
De almas de donzelas sofredoras,
A amores sonhados.
Às vezes te confundes perdidamente com a
ciência,
Às vezes abraça-te
sutilmente a almas,
Mas, com a história te encantas, casa-te...
Atravessas com teu penetrante olhar
O mais duro dos corações...
Fizeste-te
assim... ninguém parece te entender...


Mas, sente como se em algum momento
Fizeste parte de sua vida.
Assim és – moça singela –
Letras quentes-frias
Que nos conduzem tão
longe, tão perto –
És doce-útil
Poesia.









Postado por Márcio J. de Lima em Março de 2014. Exalado ao Universo em 24/10/2008.
Disponível em http://devaneiosliterariosdolima.blogspot.com.br/2014/03/metapoesia.html

terça-feira, 18 de março de 2014

Viktoria

Dezoito horas, vinte minutos - a Lua desperta, alva
A pele branca desperta antes do Sol se por
O rubor da face inocente surge lento, com calma
A alma perdida anima o corpo com fulgor

As mãos pequenas e ágeis ajudam a pequena
A procurar, na escuridão do quarto, as vestes
Negro couro e metal bem polido
E o perfume suave, como buquê recém colhido

Os olhos, há pouco pálidos e sem vida
Agora mostram-se vivos e atentos
Não há calor, nem amor, nem alegria
Não há paz, piedade ou sentimentos

Há, porém, um brilho notável e sombrio
Que congelaria, de um homem, a alma
Que destrói coragem, força e calma
E desperta abandono, fragilidade e frio

A pequena, rápida e precisa nos movimentos
Traz a lâmina oculta e longos cabelos a voar
Viktoria rastreia suas vítimas com determinação
Enquanto corre silenciosa sob o luar

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Lírios, Lavanda e Jasmim*

Foi uma manhã como outra qualquer. Porém, o sol brilhou com uma luminosidade especial, parecia que as cores estavam mais bem definidas, eu enxergava melhor, quase podia sentir em mim aquelas cores vibrando, como em um sonho.
Vesti um shorts. um par de meias velhas e um tênis fácil de limpar, depois de perceber que parte do dia escorrera por entre meus dedos. Em poucos minutos alcanço a rodovia e, logo em seguida, a abertura na mata. O cheio de terra e folhas mortas era intenso. O barulho do vento na vegetação soava claro e melancólico. Os pneus se chocando contra a lama, contra as pedras, o aço da corrente batendo no alumínio do quadro... Pareço estar completamente integrado à paisagem - eu e minha bicicleta.
Borboletas, gafanhotos, aves e até um pequeno bando de quatis parecem parar no tempo para me ver descer a trilha em alta velocidade. Curvas, saltos, a velha ponte de madeira... Tudo fica para trás ap´pos correr diante de meus olhos. Não existe tempo ou espaço aqui. Como em um universo paralelo livre de leis físicas, me sinto livre.
Tão logo chegam os primeiros pingos de chuva as lembranças se esvaem. Os amigos, família, trabalho, estudos, até mesmo meu nome. Aos poucos tudo torna-se vazio. Somente a natureza existe; eu, não mais. A velocidade torna-se quase insuportável. Já não distinguo a paisagem. A bicicleta move-se sozinha, seguindo a rota costumeira.
Quando sinto a parada brusca percebo que não há mais bicicleta - estou completamente integrado à natureza. Inspiro profundamente, olho ao redor. Penso em erguer as mãos e olhá-las, mas não tenho mãos. Expiro. Nada além de mata, pedras, folhas, flores, pingos de chuva, ar, brisa, o canto do sabiá no alto de uma imbuia em flor.
O calor daquele dia de verão se extinguira. Também não havia frio. Só havia chuva. Inspiro. A percepção diminui, perco a consciência vagarosamente, fecho os olhos até que eu não exista para poder expirar.
Abro os olhos e vejo diante de mim um espelho, mas nada havia refletido nele senão água, peixes, plantas e pedras de rio. Realmente, eu estava dentro do rio. O som da pequena queda d'água se fez real para meus ouvidos ausentes e a pressão da água surge sobre minha pele. Aos poucos a consciência volta, tão lentamente quanto se foi.
Recordo quem sou, as bandas favoritas, os quadros que ficaram gravados na memória, os discos que fizeram parte de tantos momentos...
Percebo minhas mãos, braços, pernas. Tenho vontade de expirar. As bolhas de ar saem de meus pulmões e espalham-se, no espelho, chegando à superfície. As lembranças se colorem, o vermelho e o preto ganham destaque, abre-se um sorriso. O ar acaba, volto para a superfície e logo os pingos de chuva, o verde, o cheiro de terra, das folhas mortas e do musgo voltam a existir. Sinto a brisa tocar minha pele, inspiro novamente. Encho os pulmões e sinto a vida fluir, naquele momento, em tudo ao meu redor.
Já não estou dentro d'água. A pequena cachoeira não pode mais distorcer a imagem refletida pelo espelho, que também se faz vida. Os longos cabelos molhados pendem sobre a pele alva. Os olhos amendoados voltam-se para mim. A imagem do espelho ganha vida, forma e movimento. Aproxima-se lenta, o sorriso ainda mais iluminado. Claramente traz consigo o perfume de flores do campo. Antes que eu pudesse tomar qualquer atitude ergue os braços e estende-os à minha volta. Não vejo o movimento dos lábios, mas a voz doce e melódica ecoa em minha mente, me chamando para partir. Vejo-me agora envolto por aquela criatura, tão eu, tão única, saída da natureza num quadro surreal, inimaginável, sinto meu corpo leve, suspenso no ar, enquanto nos movíamos para longe dali. As lembranças, os gostos, os gestos, tudo se recria exatamente como sempre foi, como num sonho, como em outro universo, como numa outra vida.


*Escrito ao som da chuva, um violino distante e Coil, da banda Opeth.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Sobre as Musas Inspiradoras

Voltar a escrever exige inspiração. E inspiração assim, depois de tanto tempo, exige algum esforço. Para se obter êxito necessário se faz concentração, talvez em demasia, talvez não. Mas em meio a este vasto Universo existem seres especiais que servem para inspirar e dar vida a alguns pensamentos, pobres folhas recém nascidas das mentes criadoras de poetas, compositores, escritores, cientistas, ou apenas daquele homem que analisa o céu durante um tempo e, ao unir estrelas com linhas e agulha imaginárias, traça rotas para seus pensamentos se concretizarem dentro de si mesmo e, assim, dar sentido a sua vida, seja lá qual for (o sentido, ou a vida).

Estes seres - falemos deles - são como ... Não, não podem ser estrelas. Porque estrelas surgem no céu numa noite e permanecem lá, iluminando por anos-luz a vida dos observadores e, mesmo durante o dia, sabemos de sua presença, magnitude e poder. Sabemos também do seu poder de destruição, visto que são uma chama poderosa, incontrolável, que arde até que se acabe seu combustível. Estes seres não podem ser assim.



Também não podem ser estrelas cadentes, porque apesar de toda sua beleza, características únicas e encantamento, se vão tão rápidos quanto chegam. E também não podem ser flores, cujo perfume, por vezes inebriante, sofrem com as secas ou chuvas excessivas, acabam-se após alguns dias de magistral beleza, e só aparecem quando há condições ideais para isso.

Estes seres, porém, são como árvores. Mas não uma árvore qualquer. São grandiosos e imponentes como uma sequóia, fortes e resistentes às más condições climáticas, como as palmeiras. Existem durante gerações e mais gerações, como as Cicas, dão flores belas, coloridas, de formatos variados e e de aromas inigualáveis, sempre que desejarem, assim como as orquídeas, mas muito mais duradouras e belas.

Porém, além de todas estas características, estes seres - ou criaturas, como acharem melhor - dão algo ainda mais importante: o fruto. Um fruto que não é doce, mas agrada a todos os paladares. Um fruto que não tem suco, mas mata a sede de carinho, amizade, amor, companheirismo. Um fruto que não mata a fome, que não tem proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais, mas que tem sorrisos, secam lágrimas, apoiam, criticam quando oportuno, que embelezam tardes de inverno e fazem as manhãs serem mais agradáveis, por alimentar a alma.

Estes seres, tão grandiosos, ainda possuem o colo generoso de um Baobá, que recebe nos braços as nossas crianças interiores em momentos de aprendizado, de dor ou de folia, e nos sustentam calorosos, protegendo-nos contra os monstros do mundo.

Deus colocou em meus dias seres assim, e ainda surgem alguns, por vezes, me surpreendendo. Assim, risco estas linhas com gratidão, generosidade e amor, pois é graças a estes seres - estas musas, que não necessariamente são mulheres, apesar do termo genericamente feminino - que consegui tantas conquistas, tantos bons resultados, e toda a inspiração necessária para produzir meus textos, minhas brincadeiras, minhas teimosias e, até mesmo, meus maiores amores, cultivados e sustentados por toda vida.

Recebam esta singela homenagem como símbolo da nossa união. Que nossas vidas permaneçam unidas, independente da distância que exista entre nós. Deus os abençoe, meus amores.


P.S.: Que sirva, principalmente, como felicitações para a amiga Erilva, que hoje faz alguns tantos anos (muitos mais do que se possa imaginar), e que por todos estes anos tornou meus dias mais alegres, como um bônus diário de felicidade. Surgiu como um brotinho, em meio à vastidão da terra, e rapidamente cresceu e mostrou-se grande diante de mim. São 8 anos de amizade, 8 anos de aventuras imaginárias e apoio constantes. Histórias que se perdem no tempo, mas nunca serão apagadas das lembranças. Felicidades, engenheira =)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Retorno no Fim do Dia


Adeus, Meus Sonhos!


Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia

Morreu na minha triste mocidade!


Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.



Que me resta, meu Deus?


Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!


(Álvares de Azevedo)


Há muito este poema está aqui, morto, abandonado ao tempo, enquanto espaço algum há de percorrer, pela sua insignificância preconceituada em uma visão superficial e imediatista de meus dias. Forçosa e cegamente o abandonei. Até quando ficaria aqui? Se uma alma vagante do mundo não me tivesse alertado sobre seu paradeiro, ainda estaria preso em um corredor infinito, onde cada esquina joga-lo-ia ao seu início, desperdiçando as nobres e apaixonadas palavras de um dos grandes senhores das sombras, aonde o mundo se dirige em momentos de melancolia, aflição e tristeza. Porém, não mais nas sombras estas palavras e, assim como o mar, em letras  esparramadas de Paulo Leminski, sobre a pedra à beira mar, vão espalhar-se mundo a fora, desde o litoral, passando pelas ruelas de Morretes, subindo a Mateus Leme até o Largo da Odem, a ser visto pelo Sr. Trevisan, saindo pela 277 e percorrendo este tão belo estado, levado pelo vento gélido que hoje sopra até o alto das colinas, tocando de leve o meu ser, que deixa um suspiro breve de saudade e lembrança.

Boa noite, amigos meus. Boa noite.