sexta-feira, 27 de junho de 2014

Elástico

Não foi um dos melhores, mas num momento de delírio consegui escrever este texto. Parece que os próximos textos serão mais longos do que era comum ao passado, mas sigo com aquela vontade de sempre, à mercê da inspiração, para produzir mais e mais, e cada vez mais sinto vontade de continuar, e escrever, e ler e partilhar.

"Jack Johnson tem um ritmo agradável. Fez, a partir do reggae, melodias bastante peculiares, com influência da música havaiana e alguns outros elementos que ele utiliza, juntamente com sua voz quase sussurrada. Um dos melhores músicos da atualidade, eu diria. Mas em minha mente, em meu cérebro, cada vez que acaba uma música, há alguma melodia dos anos 1970 ecoando no fundo desta minha noite chuvosa. Mais especificamente o hard rock de Nazareth.
O celular toca ao receber uma mensagem de texto. Meu pai. Toca. A menina que estuda comigo. E de novo, mas agora é a menina que trabalha comigo. Mais uma vez, com uma mensagem da minha tia. Estou conversando com estas pessoas, mas cada vez que ouço a campainha sinalizar uma nova mensagem eu pego o celular pensando ser uma mensagem sua.
Há uma caneca com chá sobre a cama. O computador está ao lado dela. A música vem dele. Eu estou na pior posição que poderia querer agora. Ok, talvez não sejas tão ruim, mas certamente não é tão boa quanto estar deitado do seu lado, sentindo seu perfume. Ou tomando um café, ou um chá, ou sabe-se lá o que. Seria melhor se fosse com você.
O violão está ao meu lado, sobre a cama, esperando uma canção. Mas se eu quiser uma canção agora, se eu fizer uma canção agora, ela será sobre saudade. Ou sobre sorrisos, lábios, noite, perfume e qualquer outra coisa que me faça lembrar você.
Eu vejo uma foto sua no celular e instantaneamente é como se não houvesse saudade. É quase como se eu pudesse estar realmente olhando pra você, tamanha sua presença em meu mundo. Ao mudar de tela a saudade volta e tudo volta a ser o que era. Você está longe, com seus cabelos e todas suas cores, com suas unhas coloridas e seu esmalte pela metade. E quando vejo, sobre a cama, um fio de cabelo longo, pego-o, pensando ser seu. Mas na verdade eu sabia que era meu desde o começo.
Eu olho para o chão, ao lado da cama, e posso imaginar um par de sapato seu ali, esperando seus pés quase sempre frios, mas parte essencial de você. Olho para o travesseiro vazio e imagino você ali deitada. Quase posso vê-la. Mas você não está aqui. Na verdade, está longe. Muito longe. Mas o aroma do incenso que está queimando na sala neste momento me faz lembrar de você. Não sei por que, mas faz.
O tempo passa, a vida passa, às vezes muito rápido, às vezes não. Mas enquanto você não está aqui parece um verdadeiro jogo de vai e vem, do início ao fim, depois ao início novamente. E este vai e vem me deixa preso no tempo-espaço de tal forma que nem sei onde eu estou pra querer que você esteja comigo.
As paredes, o teto, a música, os aromas, tudo se perde e retorna, como uma mola. Vai. Vem. Vai. Vem. A única coisa que me acompanha é a saudade. E parece que é ela quem dá mais impulso e resistência para a mola que impulsiona meus pensamentos nesta noite chuvosa.
Jack Johnson me parece ser bom pra uma noite solitária e chuvosa. Mas está tocando Nazareth. Pego sua rasteirinha para ir até a cozinha pegar uma xícara de café. Não, não era café que eu queria. E não era sua rasteirinha, era minha pantufa. Será que eu posso compor uma música que não fale sobre nada do que eu estou pensando agora?
Se eu acender um incenso talvez me acalme. Enquanto toco uma canção que fala sobre uma garota qualquer eu termino meu trabalho. Na verdade, não. Na verdade eu estou vendo um cabelo pairando no ar, suspenso num momento que não é meu, num espaço que não é seu. Neste momento as coisas se desaceleram, o som para, o coração para, os dedos param. A história para. E a história era sobre uma crônica, mas não era exatamente uma crônica. Era apenas um movimento em falso, um delírio durante o pulsar de uma mola perdida no cosmos, um sentimento vago, contínuo, delgado, suave e lacerante. Dá pra sentir seu calor na pele, se você se concentrar. Enquanto o universo viaja rápido demais...
Eu.
Pareço.
Estar.
Parado.
Bem.
No.
Meio.
Desta.
Saudade.
Na verdade... Eu só queria escrever uma crônica..."