Abri a gaveta com a sensação de que eu encontraria algo bom pra comer. Mas não encontrei. A única coisa que eu tenho pra engolir é a verdade. Eu deveria estar escrevendo isso. Abre o Blog, pensa, escreve, pensa, escreve, pensa, escreve, pensa, escreve...
Não consegui uma vaga pro Mestrado da UEM. "Tudo bem, tenta ano que vem", dizem vários. Mas não, não posso perder tempo. Ou melhor, já perdi. Mais um ano parado e tudo por causa da esperança de ter ido embora pra Santa Catarina. O que tem naquele lugar que eu tanto quero? Mulheres, praia, sol, mar... A vida não é pra mim. O clima perfeito não é pra mim. Enquanto isso eu vou passar aqui, trabalhando aqui, respirando o pó velho daqui. E minha alergia vai continuar viva aqui, dentro de mim.
Tudo bem, essas coisas acontecem. A vida continua e a cidade permanece a mesma, enquanto eu vou tentando me adequar. Mas quem é que se adequa a alguma coisa? Adequação é mudança e mais do que nunca me convenço de que pessoas não mudam.
E quanto a ela? Ela ficou. Ficou só. Ficou triste e por isso chorei. Mas a vida aqui segue. A vida aqui, enquanto estou preso nessa redoma segue. E apesar de tudo, segue feliz. Feliz porque tenho mais companhia.
E eles? Eles tão lá, na rua, subindo o morro, atravessando o Inferno Verde. Daqui a pouco vão começar a descer. E o que eu posso fazer? Nada. Minha tarefa é outra. Enquanto eu quero fazer parte da força-tarefa que tá quebrando tudo por lá, minha missão é permanecer aqui, calado. Tenho minhas obrigações aqui também e é claro que eu não poderei deixá-las pra trás.
Fico aqui, enquanto isso, aguardando uma ligação. "Onde é que vc tá, parceiro? Tá na Penha, tá no Largo? Tá no morro?" "Eu sou detetive. A única coisa em que consigo fazer é pensar sobre essa porcaria toda", diria o Inspetor Guedes. Mandei os caras pra morte, pra ver face a face o que é estar numa guerra. Quero saber quando os caras que tavam no meio-oeste europeu vão chegar. E como é que os malditos vão agir? Conversar em búlgaro no meio da favela? Isso vai ser tenso. O bom é saber que a parada toda vai acabar.
Final de semana vai ser livre. Tenho aula, mas, e daí? Aquilo é quase um recanto de paz pra minha alma. Eu fujo do mundo quando to com o pessoal da pós graduação. Discutimos teorias diversas e eu esqueço dessa m**** toda. E depois, algumas horas com ela vão fazer eu ficar bem calminho.
Eu hoje tive um sonho. Eu peguei você, seu safado. E vou pegar cada vez que você tentar alguma coisa contra mim ou contra minha família, meus amigos. Você já era. Sabe bem disso. E sabe que quando eu te pego as coisas não ficam bem pro seu lado. Eu vou quebrar cada um de seus ossos.
Final de semana vai ser bom. Pais viajando em segurança, em paz, a caminho da Capital. Amigos, voltem logo. Que esta operação seja a prova de que vocês são os melhores. E quanto a nós, que permanecemos aqui, vamos vivendo, poque nenhum entendimento será o bastante para a vida. "Viver ultrapassa qualquer entendimento".
Da minha morte, à vocês!
Com amor, O, C, B e K.