sábado, 27 de fevereiro de 2010

Feliz Aniversário

Olá, queridinhos!
Vejam só vocês: neste dia 27 estou completando 622 anos! Pois é... É estranho, eu sei, pensar em séculos de uma existência, mas é exatamente assim que me sinto. Não, não é uma crise de 20 anos, em que o jovem começa a se sentir um velho e pensa que vai morrer logo logo. Eu não. Nasci há 622 anos atrás, na velha e fria Londres, em 27 de fevereiro de 1488. Rodei a Europa algumas vezes, viajei até a Ásia, conheci a América do Norte e, antes de vir para o Brasil, fiz uma última visita à minha terra natal. Um passeio com um ar de despedida, como se não mais pretendesse voltar até ela, nem mesmo visitá-la. E fique claro que isso realmente não faz parte dos meus planos futuros.
Enquanto vivendo no Brasil - entenda-se vivendo como sendo diferente de "vivo" propriamente dito - tenho outros planos, para um futuro não muito distante, para uma vida simples mas brilhante ao lado de alguém que me mereça (ou me aguente).

É interessante considerar esses seiscentos anos, em vez de apenas os últimos vinte e dois dos quais me lembro. Intrigante pra uns, idiota pra outros. Mas, para mim, simples e seguro. As músicas, principalmente, além da arquitetura de alguns locais, algumas regiões de florestas, histórias e culturas antigas, são o que me dão a certeza de ter realmente vivido esses 600 anos.

Lembro dos meus primeiros anos, diante da imponente Floresta Negra. O vento frio uivando nas folhas dos pinheiros, o chão forrado pelas folhas mortas, marrons, lobos correndo no início da noite e alguns garotos correndo, caçando, brincando. Velha infância de jogos e pequenos prazeres!
Depois, com as mudanças da velha mãe, tive de partir e por muito tempo passei vagando mundo afora.

Aventuras incontáveis, amizades incomparáveis. A felicidade que se exprime em minha alma é inigualável a qualquer outra sensação, qualquer outro sentimento. Simples e pura; logo, nem sempre consigo alcancá-la, visto as complicações que geralmente criamos, dificultando a visualização de coisas simples da vida.

Junto comigo poucos caminharam, principalmente durante todo esse tempo. Perdi amigos, perdi amores... Mas todos certamente seguem seu ciclo de vida de acordo com o que lhes é destinado, assim como eu, fadado a viver por longos e longos anos, mundo afora, até a chegada de meus dias. Sei que não estão distantes, mas vários anos ainda passarão diante de meus olhos e certamente muitas mudanças acontecerão até que eu repouse meu corpo e o devolva à mãe Natureza.
Enquanto isso, meus olhos viajam na Lua, guia de minhas noites, de meus sonhos. Passo os olhos nas nuvens ralas de dias de vento frio e elas me lembram o mar. Ah, o mar, paixão maior de minha vida. Por séculos permaneci diante dele, para minha alegria constante. Jamais, entretanto, me afastei a ponto de não mais sentir sua presença. Continuarei assim e, em breve, devo voltar e viver meus últimos dias diante desse azul imenso que nos protege.
Hoje comemoro, enfim, meus 622 anos. Mas não comemoro sozinho - ainda há a Meri, a Margareth, a Dalila, que faria aniversário se ainda estivesse conosco (Deus a abençõe, onde quer que esteja!) e a Angela.
Minha irmã adotiva querida, uma amiga inexplicavelmente presente em todos os meus dias, mesmo que passemos dias sem nos falarmos diretamente, seja por MSN ou Orkut ou telefone, sabemos muito bem o que acontece e o que vivemos. Não sei ainda quantos anos ela está comemorando, não me lembro em que momento nos encontramos pela primeira vez, mas que neste novo muitas coisas boas se revelem diante de nossos olhos, que a vida nos mostre seu lado mais belo, que o prazer esteja presente em nossos dias e que a Lua sempre possa guiar nossos passos. Se os seus passarem a ser tão soturnos quanto os meus, então que possamos mais ainda guiarmo-nos diante dos desatinos e desafios que o mundo nos entrega.


"Ando só como um pássaro voando. Ando só como se voasse em bando. Ando só, pois só eu sei andar sem saber até quando..."

Para encerrar, frase de autoria desconhecida, mas utilizada pelo grande Machado de Assis, escritor desta terra, ausente há 100 anos:

"Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile."

"A arte perdura. A vida é breve. A oportunidade é sutil. O experimento é perigoso. E o julgamento é difícil".




P.S.: O célebre aforismo "Ars longa, vita brevis", atribuído ao grego Hipócrates, pai da Medicina

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Coração Blindado

Para milady Erilva, mais uma canção dos Engenheiros do Hawaii. Interessante que sobre esta canção eu não pensara antes de maneira crítica, quer dizer, não a avaliei psicologicamente ainda. No entanto se faz mais uma canção do EngHaw que mostra a nossa realidade. Algumas vezes penso que vou entrar em depressão por ter ao meu redor - e conseguir perceber - toda essa realidade, enquanto tantos há que não se dão conta do que dizem nossos poetas. Não apenas no caso de Engenheiros do Hawaii, mas também Legião Urbana, Cazuza, Cássia Eller, Rita Lee e os Mutantes, Ney Matogrosso, Pedro Luís e a Parede, Pitty, Lou, Titãs, Paralamas e outros. Lembrando que estamos citando apenas os brasileiros. Se formos pra Argentina já será uma completa Revolução, tal como o próprio Revolução por Minuto desejava fazer em seu tempo. Quem entende as palavras de cada um desses homens? Quem entende o grito, o sussurro, a frase de guitarra ou a base agressiva do baixos? Quem entende as viradas na bateria ou a leve percussão ecoando no fundo da melodia? Poucos... Vamos a mais uma.

Fácil falar
Fazer previsões depois que aconteceu
Fácil pintar o quadro geral
Da janela de um arranha-céu

Sem ter que sujar as mãos
Sem ter nada a perder
Sem o risco de pagar pelos erros que cometeu

Fácil achar o caminho a seguir
Num mapa com lápis de cor
Moleza mandar a tropa atacar
Na tela do computador

Sem o cheiro
Sem o som
Sem ter nunca estado lá
Sem ter que voltar pra ver o que restou

Com a coragem que a distância dá
Em outro tempo em outro lugar
Fica mais fácil

Fácil demais
Fazer previsões depois que aconteceu
Fácil pensar nas condições ideais
Que nunca existirão

Sempre à distância
Sem noção
O que rola pelo chão
Não são as peças de um jogo de xadrez

Com a coragem que a distância dá
Em outro tempo em outro lugar
Tudo é tão fácil


É como conversar via MSN. O que se diz? O que se pensa? Com toda a blindagem que um monitor e um cabo de rede nos concedem, fica fácil ir a qual lugar, falar com qualquer um, fazer qualquer coisa. Sabe aquele amigo chato que faz despertar a vontade de mandá-lo fazer aquele tipo de coisa indesejável a qualquer um? Faz-se via MSN sem peso na consciência. E caso a culpa se mostre, tudo bem. Criamos um "Fake", invadimos um perfil e fazemos um estardalhaço.

Dizer a alguém em um fim de conversa "Te amo" fica tão fácil quanto dizer "Bom dia!". E o real significado disso tudo simplesmente perde-se por aí, fica esquecido, abandonado. Daqui a um tempo os filósofos (se é que ainda existem filósofos por ai) vão ter que acrescer à expressão um algo a mais, para demonstrar a verdadeira expressão dos sentimentos, porque dizer a alguém que está a amar vai ser como dizer que tem sede.

Seria bom se começasse a se pensar sobre algumas dessas coisas, pois o sentimento - não mais o sentimentalismo, porque hoje em dia isso é coisa de velho ou "boiola", como dizem - está se acabando. À distância, conforme nos ensina a TV (de televisão, ou visão à distância), há coragem, poder e vontade de se fazer tudo. Porém eu quero ver quem terá coragem de chegar em seu amado, olhá-lo nos olhos e dizer o que sente, o que o incomoda, olhar nos olhos do inimigo e dizer que o perdoa (isso poucas pessoas têm de fazer; não de olhar, mas de perdoar), olhar nos olhos de seus pais, filhos e demais parentes, amigos, aquele vizinho desconhecido, e dizer sinceramente "Tenha um bom dia", "Eu amo você", "minha vida é ao seu lado", "Obrigado por sorrir pra mim, por me fazer feliz, por mudar o meu humor no dia de hoje". Quase ninguém tem coragem.

Assim como ninguém tem coragem de seguir a lei e não ouvir música alta após as 22h, em frente a hospitais, não estacionar na vaga para deficientes (quando não se é deficiente), furar fila, gritar ao celular, brigar com a esposa, sonegar impostos, desviar verbas e bens públicos, furar um sinal vermelho.............. (lista infindável de coisas que o ser humano faz e nem se dá conta de quanto pode prejudicar o resto do mundo, resultando em sua própria desgraça).

O que se perde quando os olhos piscam?
Saudades, Eri. Espero que tenha servido pra alguma coisa ;)








Saudades da Isa. (LL)
Lichtgestalt, in deren Schatten ich mich drehe...