
Olho de volta para a casa, penso em acordá-la para que possa desfrutar deste momento junto a mim. Um momento especial, relativamente difícil de se ver. Mas não posso. Não posso pensar em interromper seu sono, seu momento de repouso. Unir a pessoa a quem mais amo a um momento de harmoniosa admiração da natureza seria perfeito, mas, não posso. Não posso pensar em fazer algo que tire de você este momento prazeroso, assim como qualquer outro.
Sigo meu caminho. Deixo-a para trás. Levo comigo as gotículas de água suspensas no ar denso da manhã enevoada. caminho pelas ruas, sinto tocar minha pele as gélidas e pequeninas frações liquidas, como um perfume que se espalha, como o pólen minúsculo carregado pelo vento, como o aroma do café que você prepara, como o cheiro do seu corpo que domina o quarto com sua presença.
Deixo-a. Pode parecer egoísta, caminhar sozinho pela cidade em um momento em que ela oculta suas linhas, seus corpos, e se enche de mistérios, mas não. Fiz isso pensando em seu bem-estar. Fiz isso porque dentro de mim, no mais íntimo de meus pensamentos, encontro a certeza de que este não será o último momento. Não será a última oportunidade. Fiz isso porque dentro de mim tenho a certeza de que podemos construir um caminho que nos leve a muitos outros lugares, a muitas novas oportunidades, e que inclusive nos leve para um lugar onde as brumas estarão à mercê de nossas vidas, para que juntos possamos desfrutar desta beleza natural em um momento mais propício, você e eu, num dia qualquer, vivendo nosso amor.